Vinicius de Moraes - 1967 -


Vinicius de Moraes - 1967 -


Conheci Vinicius de Moraes, através do livro “Para se viver um grande Amor’ e me apaixonei por ele.

Eu e logicamente todas as mulheres de minha geração.

Vinicius era o homem ideal!

E como sabia agradar as mulheres, com sua maneira de lidar com as palavras!

Seus versos enchiam o nosso coração de fantasia.

O poema “Carta do Ausente” ," Amor dos Homens” e “Para se viver um grande Amor”, já por si falam o que as mulheres de minha época sonhavam.

Vinicius era o nosso homem sonhado e continua a ser o nosso poeta maior.



Em 1966, os 3 Morais, através de um telefonema de Augusto Marzagão, foram convidados para participarem do FIC 1966, pela fase nacional.

Teríamos que ir ao Rio de Janeiro, para conhecermos as musicas que teriam sido pré-classificadas e escolhermos a que mais se adaptasse ao estilo do nosso Trio ‘ Os 3 Morais’.



Saímos de São Paulo de manha e chegamos ao Rio na hora do almoço.

Fomos recebidos no aeroporto por representantes da gravadora, que nos levaram ao hotel e marcaram de vir nos pegar à noite, depois do jantar, para a tal reunião musical.

Antes do nosso jantar, soubemos que o próprio Augusto Marzagão é quem viria nos buscar, pois a reunião musical seria na casa de Vinicius de Moraes.



E para minha surpresa.  Eu iria conhecer Vinicius de Moraes! O meu poeta!

Nossa, nem podia acreditar que iria conhecer o meu ídolo!



Nessa noite, depois do jantar, descemos ao saguão do hotel e já encontramos o Sr Marzagão,  super simpático  e feliz  dizendo que a reunião fora marcada pelo próprio Vinicius, que queria nos conhecer, pois  como também tínhamos Moraes no sobrenome, ele se achava nosso parente.

Lá fomos nós, em um carro grandão, com as janelas abertas e o Marzagão , nos mostrando os lugares famosos... Ipanema, Leblon, a Lagoa Rodrigo de Freitas.....



E eu que não conhecia o Rio de janeiro,  nunca havia saído à noite em uma cidade tão linda, ainda me lembro da sensação gostosa  do vento quente batendo em meu rosto.

E como paulista, pensei que devia ser  fácil para os compositores da bossa nova se inspirarem e só falassem das belezas do Rio.

Chegamos ao edifício onde morava o poeta, entramos e pegamos o elevador.

Quando a porta do elevador se abriu... Surpresa.!!!

VINICIUS DE MORAES... Em pessoa, estava na nossa frente, nos esperando, foi demais!!


Este encontro marcou também para mim, porque foi a primeira vez que fui a um apartamento, onde o elevador se abrisse  já na sala do proprietário,  devia ser uma cobertura, não me recordo bem.

Tinha muita gente, falando, a musica  já tocando e eu na minha timidez, só observando.



Vinicius, sempre feliz, me cumprimentou como a irmãzinha do Sidney, me achou bonitinha, falou que já me conhecia cantando, mas o resto da noite, só conversou com meu irmão Sidney e com o Marzagão.



Eu o olhava e olhava e não conseguia identificar, onde estava o ‘ meu poeta.’..

O Vinicius que estava ali, na minha frente, era bem diferente.

Um homem meio envelhecido, meio barrigudo, com um copo de bebida em uma das mãos e a outra sempre acariciando as mulheres, que choviam ao seu lado.

E eu ia me escondendo cada vez, mais na minha concha de timidez, meio decepcionada, talvez até com um pouco de ciúmes. Sei lá...



Eu me lembro que ele sentou-se à nossa frente, em um sofá e aos seus pés sentou-se no chão, uma moça que colocou a cabeça no colo dele e  ele rapidamente começou a lhe fazer carinho, sentada no encosto do mesmo sofá, na parte de traz, estava outra moça, fazendo cafuné na cabeça dele.

Nossa... todas as mulheres faziam carinho nele...Todas o amavam!



Mas me pareceu que ele nem se dava conta disso, acho que estava acostumado com estes dengos, os gestos dele eram mecânicos.

Estava sim, bem  mais entusiasmado com a conversa que estava tendo, com meu irmão Sidney e o Augusto Marzagão.

O assunto corria, sobre a qualidade das músicas inscritas no festival.



Meu irmão Roberto, como sempre, logo se enturmou com as pessoas todas que estavam nessa reunião e começou a brincar comigo, para me fazer ficar mais relaxada.



Conheci nesta noite, cantoras que se fizeram minhas amigas nessa época, Vanda Sá (que era namorada do Edu Lobo) e Olivia Hime , super simpáticas, que vieram me fazer companhia e me tiraram daquele meio de homens mais velhos  e foram  me contando, quem era  quem...

Aí soube que uma das moças era a mulher atual de Vinicius e a outra era a filha dele, quase da mesma idade as duas.

Caminhavam comigo, me ofereciam refrigerante e me tratavam como uma menina. Talvez pelo meu tamanho ou meu jeito tímido de ser, queriam me deixar à vontade.

Nestas nossas passagens pela casa, eu vi um rapaz, que me pareceu tão assustado quanto eu... Ele ficou sentado todo o tempo, atrás de um pilar, com um vaso de plantas que encobriam a metade de sua figura.

Eu pude perceber que ele, como eu, também pouco falava, só observava.

Eu era uma mocinha paulista, de comportamento muito restrito, diferente das cariocas que já eram descoladas.



Mais tarde fui sentar-me novamente no sofá, no meio de meus dois irmãos, porque Vinicius queria nos ouvir cantar.

Vinicius nos chamava entusiasmado de ‘meus parentes’, pois dizia que a família Moraes é muito pequena, então seríamos todos parentes.

A musica esperada por ele, era a Sambachiana, composição de Ely Arcoverde que era a preferida de todos ali.

Cantamos o Sambachiana e também, algumas seleções de bossa nova.

Depois das canções todas, o Marzagão veio nos apresentar o rapaz tímido .

Foi mais ou menos assim...

­_Quero apresentar pra vocês ,este novo compositor mineiro, que conseguiu classificar três musicas no festival:

Este é *Milton Nascimento.

Milton se sentou timidamente  em uma poltrona e tocou para nós,  as três musicas que ele havia classificado do FIC 1967, para que escolhêssemos a que ficaria melhor para harmonia vocal.


Eram musicas lindas e Milton nos encantou pela sua voz afinada e singular.

A nossa escolhida foi ‘Travessia’, ficando ‘Maria minha fé’, para Agostinho dos Santos e ‘ Morro Velho’ para o Milton Nascimento.

... (este é outro caso que vou contar em outro capitulo)



E a reunião musical foi se estendendo pela madrugada... E ninguém sentia sono; Só eu.

Era muita informação e muita emoção para um dia só... Eu estava cansada.

Vinicius então pediu para Vanda Sá...

_Vandinha, você poderia levar a Janinha para o hotel, porque ela já está quase dormindo, com certeza, ela não está acostumada com nossas madrugadas.

Vanda Sá, rapidamente obedeceu e junto com Olivia Hime, foram me levar ao hotel, Meus irmãos ficaram lá, para poderem curtir mais...



Lembro-me que saímos as  três: Vanda Sá, Olivia Hime e eu.

As duas foram na frente... e eu no banco de traz.

E mais uma vez, eu pude desfrutar, em meu rosto, através da janela do banco de traz do carro, aquele delicioso vento quente do Rio de Janeiro.



No dia seguinte, a caminho do aeroporto, ainda soube por intermédio de meus irmãos, que a reunião fora um sucesso e que Vinicius havia nos elogiado muito.



Mal sabia Vinicius, que eu era muito mais que uma irmãzinha que cantava afinadinho...

...Eu era sua leitora, sua fã... Uma das tantas que queriam  muito se casar com ele!



Mas me lembro bem que alguma coisa havia mudado dentro do mim...

Depois que conheci o Vinicius de Moraes, o homem...

Eu entendi que teria que separar os dois Vinicius.



O Vinicius de Moraes ‘O Compositor’, musical e feliz com a vida e cheio de mulheres... 


E o Vinicius de Moraes “ O Poeta”, o homem de uma mulher só.


Este era o outro, mais comedido, muito mais romântico...

E que, apesar dos anos, continua maravilhoso e sempre me visita, a cada vez  que eu abro as paginas já amareladas de meu livro “Para se viver um grande Amor” e releio alguns de seus poemas que  me levam novamente  para o mundo dos sonhos adolescentes...

    Este é o Vinicius de Moraes que eu tive a honra de conhecer...

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