Nara Leão – 1967 -





Conheci Nara Leão pessoalmente ,quando ( Os 3 Morais ) fomos convidados  pelo diretor Nilton Travesso para fazermos o programa “ Para ver a Banda Passar”, que seria um programa com os artistas Chico Buarque de Holanda e Nara Leão.
Este programa ‘Para ver a Banda passar’, nasceu  pelo imenso sucesso que fez a música “A Banda”, no Festival da Record, que também foi apresentada pelos dois Chico e Nara.
 Apesar  de muitos  pessimistas não acreditarem que o Chico e a Nara, pudessem apresentar um programa de TV, por serem os dois visivelmente tímidos,  eles se saíram muito bem e este foi mais um programa de sucesso da TV Record.

Nós Os 3 Morais, já  éramos contratados da TV Record e já participávamos do programa ‘O Fino da Bossa’, de Elis Regina e Jair Rodrigues.
Talvez também tenha contado pontos o fato de Os 3 morais terem participado do 2º lp do Chico, ou seja, estávamos de certa maneira unidos no mesmo som .
Foi um programa  muito bom de se  fazer..

Chegávamos para o ensaio todas as quintas feiras na parte da manha, pegávamos nossa participação e começávamos a ensaiar.
Foram durante essas quintas feiras, que eu tive a oportunidade de conhecer  Nara Leão.

Nara com certeza era tudo o que uma mulher dos anos 60 gostaria de ser : bonita , inteligente, extremamente feminina muito simpática e charmosíssima !
Era incrível , como os homens babavam, quando ela lhes dava atenção.
Todos, sem exceção, os músicos, diretores e todos os trabalhadores da Record...
Nara  primava  pela educação e cumprimentava  a todos com muito carinho...

Quanto a mim, éramos as duas mulheres fixas do programa, então nós duas saíamos quase sempre juntas  pra tomar nosso lanche, no bar da esquina.
Ali, passávamos horas trocando figurinhas.
Nestas nossas conversas sobre a vida, Nara me revelou que sonhava em ter filhos, tinha medo que a idade passasse e por causa de sua carreira  de cantora e não desse tempo para ela, que já se julgava envelhecida.
Então, quando eu dizia que eu havia tido uma filha  muito jovem, assumindo assim um compromisso serio e pesado demais pra mim...Ela me ‘consolava’, dizendo: Você fez o certo, quando estiver mais velha, sua filha poderá ser sua amiga.
Agora  você deve focar em  sua carreira,  porque quando estiver no ‘auge’, não vai ter que parar de cantar, pra ter filhos, como eu pretendo fazer... e  brincava...´É   eu encontrar o homem certo  e ria , ela ria sempre, ela era um encanto de pessoa.

Nessa época  a  minha filha Debora, tinha muito  o jeito da Nara, era clarinha,  com cabelos pretos e lisos,  então cortei os cabelos dela, igual aos da Nara e como sabia que Nara gostava de crianças , levei-a  em um ensaio, para que Nara  a conhecesse.
A  Nara adorou, ficou andando por toda a Record , dizendo a todos...Olha a minha filhinha, muitos acreditavam , porque eram muito parecidas as duas, ela ria e depois contava a verdade...
É muito bom lembrar , como foi engraçado vê-las andando na minha frente, pelos corredores da Record, o mesmo tipo de cabelo e as mesmas pernas grossas .

*Sobre o corte  de cabelos: aquele corte de cabelos com franja  e com a parte da frente mais comprida que a de trás, poucas pessoas sabem,  mas esse corte de cabelos, que é moda ate hoje , foi lançado pela Nara Leão.
Foi  uma adaptação do corte Chanel.
Ela cortava o cabelo a Chanel e deixava a parte da frente sempre mais comprida.
A Nara lançou muita moda.
Os vestidos curtos com corte reto, com a saia um pouquinho  evasé, os sapatinhos boneca...Quase sempre de cor preta  e com poucos detalhes.
Lembro-me que eu copiava este estilo de se vestir da Nara.
Alias, a maioria das cantoras  de bossa nova, usavam esse tipo de modo de se vestir, o Quarteto em Ci, a Ivete, O Quarteto  As Meninas , a Gal Costa ( antes da tropicália), entre outras.
Nara era muito elegante , suas roupas eram lindas e primavam pela discrição.

Ela chegava  direto do aeroporto  para a tv, com um sapatinho baixo, tipo boneca, ensaiava e ia para o camarim se trocar, para fazer o programa.
Independente da roupa que usasse, o sapatinho era sempre o mesmo.

Um caso que marcou pra mim foi no  dia de seu aniversario, Nara pediu que eu fosse ao seu camarim  para ver a roupa que sua irmã Danuza ,havia trazido do exterior para ela, como presente de aniversario.
Estava estendida  em um sofá, uma saia curta metalizada, com blusa e meias,  em lamê, um tecido que depois levou o nome de lurex, também o sapato e os brincos, tudo na cor prateada.

Achei lindo tudo aquilo, aquela combinação em prata, para ela que tinha cabelos pretos, ficaria lindo! E disse pra ela _vai ficar lindo em você!
E ela olhava e olhava e dizia : _ poxa Janinha ,estou achando muito exagerado, não combina comigo e esses brincos  e colocou  um dos brincos perto da orelha dizendo...
“Estarei parecendo uma arvore de Natal”, esta foi a primeira vez que ouvi essa comparação.

Ela usou a roupa nesse dia, sem os brincos; E foi super elogiada  por todos.
Esta mesma roupa , sem os brincos e sem as meias , ela usou também  quando ganhou o festival da Record com a musica ‘A Banda’.

A Nara marcou muito na minha vida, pelo seu jeito suave e moderno de ver a vida.
Uma mulher forte e sem preconceitos,  pra tudo ela dava uma solução, parecia que a vida pra ela tinha que ser vivida assim, com essa leveza e esse encanto.

Acompanhei de longe sua vida e vi que ela conseguiu conciliar uma carreira de sucessos, casar e ter filhos ; Pena que tenha ido embora tão cedo.

Talvez a Nara  fosse um Anjo com uma passagem  rápida e harmoniosa,  por este nosso planeta tão rude.


Essa foi a Nara Leão que eu tive a honra de conhecer.

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