Quando comecei minha carreira de cantora ( crooner) da
orquestra do Zezinho e Luis Arruda Paes, em 1960, comecei também a ser
influenciada pelo gosto musical do músico
Sergio Verissimo, que depois se tornou meu primeiro marido.
Serginho era o acordeonista da orquestra e já era
considerado um grande musico de jazz; Seu estilo e referencia musical vinham de
Artie Van Dame e o cool jazz de
Chet Baker e foi através dele que eu conheci
os grandes nomes do jazz.
Na musica brasileira, Serginho era fã incondicional de Johnny
Alf e tão logo começamos nosso namoro, ele já começou a me influenciar, em quais compositores eu
teria que basear meu repertorio.
Foi através de Serginho, que tive a oportunidade de aprender
as músicas de Johnny Alf .
Quando completei 18 anos, meu presente foi conhecê-lo.
Passamos a frequentar as casas noturnas onde Johnny se
apresentava.
No dia em que o
Sergio contou para o Johnny que eu cantava temas de jazz na orquestra, Johnny logo me chamou para
cantar com ele e isso se tornou uma constante.
Em todos os lugares que Johnny me via, pedia pra que eu cantasse
e me acompanhava ao piano ; Assim, Johnny e eu, fomos começando a nossa amizade,
Em 1964, quando o musico e compositor Ely Arcoverde , me
contratou para cantar em seu grupo no João Sebastião Bar o ‘Templo da Bossa
Nova’, eu me senti perdida, pois meu repertorio de bossa nova era muito
pequeno, pois me especializara em jazz.
Na minha estreia no João Sebastião Bar, cantei o meu pequeno
repertorio de bossa nova e acho que com o pouco que eu tinha, não agradei muito
o gerente.
Quando estava no
final de minha apresentação, chegou o grupo que revezaria conosco e para a minha grande surpresa...Era o grupo do meu ídolo ‘Johnny Alf ‘.
Johnny ficou feliz em me ver ali, como cantora e como ficou
sabendo que eu não seria contratada, deve ter contado ao Paulo Cotrim (proprietário), que já me conhecia cantando.
Então, Johnny pediu para que eu cantasse algumas
musicas do meu repertorio, para mostrar
para todos ali que minha praia era o jazz.
Lembro-me que já era final de noite e na plateia estavam
apenas Johnny Alf, Paulo Cotrim e Lane
Dale ( o bailarino ).
Agradei muito a eles, cantando meu repertorio que era baseado em gravações de Chet Baker e Anita
O’Day, um tipo de repertorio que era muito pouco conhecido, das pessoas comuns,
mas que era o preferido do Cotrim que era o dono do João Sebastião Bar.
A partir desta noite, o João Sebastião Bar, o “Templo da
Bossa Nova”, começou a apresentar também
temas de jazz.
Depois eu soube por intermédio do Newton contrabaixista, que
foi pelo aval de Johnny Alf que eu consegui ser contratada
para este meu primeiro emprego...
Fiquei super agradecida ao Johnny , que com esse empurrão
me ajudou aos poucos a melhorar meu repertorio de bossa nova.
E foi através de Ely Arcoverde, que pude ter um repertorio
de bossa nova de qualidade
A partir daí, Johnny e eu, nos víamos todos os dias, era
muito bom cantar no João Sebastião Bar , pois sempre que eu terminava a minha
apresentação , subia para o mezzanino, onde podia ver e ouvi-lo.
Foi com certeza, uma
das fases mais felizes de minha vida.
A nossa amizade continuou, mesmo quando já não trabalhávamos
mais juntos.
Johnny
sempre passava em casa, para deixar fitas cassetes de musicas que ele achava
que eu deveria cantar. Conheci a arte da cantora Kathleen Battle, através
de uma fita cassete que o Johnny
deixou na portaria do prédio em que eu morava... com um bilhete...
‘pense nestas músicas , para o seu novo
repertorio’ , eram musicas brasileiras alguns folclores latinos......muito bom
mesmo..
Quando gravei a dupla Jane & Herondy, tivemos um
afastamento, devido ao sucesso da dupla, pois tínhamos que cumprir uma agenda de shows, mas
quando estávamos em São Paulo, íamos eu
e Herondy assisti-lo; Johnny também já
conhecia o Herondy e ficou feliz com o nosso casamento.
Nessa época eu tive muitos amigos bossas novistas e
preconceituosos , que torceram o nariz para minha nova carreira na música comercial... Menos Johnny Alf e Dick Farney, que continuavam os
mesmos meus amigos de sempre.
Em 1991, voltei a cantar sozinha em um show dirigido pelo
Fernando Faro, no Ópera Room e na
estreia estava eu me arrumando no
camarim, quando o Heron veio me dizer:
Mamy, sabe quem esta
na fila para assistir seu show??
O seu amiguinho Johnny Alf, está quietinho, escondido,
esperando abrirem as portas do teatro.
Depois Johnny veio me cumprimentar no camarim , feliz em me
ver cantando nossa bossa nova novamente.
E nessa ocasião ele me disse:
_Janinha , agora ao invés de falar de jazz, ou cantora de bossa nova... você
tem que dizer que é sambista e enfatizou:
Para se cantar bossa nova, tem que se ser :“Sambista”.
Fiquei super feliz , em
ver como ele continuava me orientando
bem nessas coisas e comovida com a atenção dele.
No ano seguinte, 1992, Eduardo Gudin me telefonou
e falou de um show, que ele iria dirigir, no Sesc Pompeia com Johnny Alf
e Heraldo Do Monte e como precisavam de uma cantora , Johnny pediu que o Gudin
me chamasse.
Começamos a ensaiar
na casa do Johnny , no bairro da
Móoca.
Era muito bom e eu sempre levava alguns quitutes, lembro que
ele gostava de umas trouxinhas de frango que eu fazia.
Parávamos o ensaio e ele ia para a cozinha fazer o nosso
café, para comermos com as trouxinhas.
Eu ficava só pensando, de como eu era privilegiada!
Poucas pessoas tiveram a oportunidade de conhecer o seu
ídolo
e poder tomar um café
feito por ele mesmo!!
Nem é preciso dizer que o show foi maravilhoso né?
Olha uma das reportagens que saiu o na época
Heraldo
DoMonte , eu e Johnny Alf
Cantar ao lado de Johnny Alf, sempre foi muito
prazeroso.
A nossa amizade continuava firme e forte.
Sempre conversávamos pelo telefone, ele ouvia meus problemas
, mas pouco me falava dos dele , sempre
me aconselhando muito, como um irmão mais velho.
Johnny Alf foi para mim, muito mais do que um ídolo...
Ele foi meu amigo, meu orientador, meu guru, um irmão...
E eu sempre o amei muito.
Quando ele adoeceu, ainda nos falávamos pelo telefone.
Mas quando ele morreu, eu não me encontrava em São Paulo, estava em
temporada com shows no nordeste ;
Senti
muito sua morte, mas sei que aonde quer
que ele tenha ido, saberá o quanto eu senti perdê-lo.
Mas pra mim, Johnny Alf não morreu.
Ele continua sempre muito vivo, aqui no meu coração, pois a cada vez que canto uma musica dele, sei
que ele está presente e sempre perto de
mim.
Este é o Johnny Alf,
que eu tive a honra de conhecer.
Este album teve a participação do grupo vocal
os 3 Morais.
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